O 13 DE MAIO, DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Fausto Antonio
Por, Renato Izidoro
Fausto Antonio, escritor e professor (UFAM), nos presenteará com saberes acerca do negro que estão do lado mais puro da consciência, a vivência inexoravelmente material do ser e viver negro. Algo que será sempre inexorávelmente inconsciente para um branco ou para um índio, os quais, no máximo, podem saborear palavras mensageiras de uma realidade que se mostra diante da outra mediante regiões abissais a serem impossivelmente transpostas. Lendo um de seus textos, intitulado "Morro é cenário para o preconceito", publicado em 7 de janeiro de 2008 no Jornal Correio Popular, da cidade de Campinas, onde o autor aborda criticamente os graves problemas expostos e provocados pelo filme "Tropa de Elite", é notável como a personagem chamada de Capitão Nascimento se mostra como sendo o ponto cego, o ponto inconscientemente branco diante do negro brasileiro. Por outro lado, como bem classifica o Capitão Nascimento como esquizofrênico, essa personagem, justamente por manter o negro em seu inconsciente, em seu campo de desconhecimento, ele acaba por lançar à céu aberto o inconsciente do branco brasileiro. Capitão Nascimento deve servir de espelho, um espelho cujo um dos lados está sempre oculto. A metáfora do espelho é tão radical nesse caso, que atrás do reflexo do espelho, ou seja, como fundamento do reflexo do espelho, está presente um fundo negro sempre desconhecido para aqueles que não querem saber das bases de suas próprias imagens estereotipadas apresentadas pelo reflexo do espelho. Ora, se a pergunta "existem negros no Brasil?" é absurda, mais incrivelmente ridículo é concluir que muitas pessoas ainda não sabem como um espelho funciona.
Muitos criticam os dias comemorativos por suporem consitirem apenas uma forma política de satisfazer uma demanda imediata em troca do silêncio a ser extendido por todos os outros dias constituintes dos ciclos anuais. Em suma, costuma-se opinar que as datas especiais acerca de certas questões sociais servem apenas para que as mesmas sejam esquecidas no transcorrer dos fluxos da vida prosáica. Entretanto, em se tratando de temas como o da consciência negra mediante a abolição da escravatura, ter um dia como marca definida signica, dentre outras coisas, quem sabe para os mais otimistas, a abertura de uma fenda no campo inconsciente, no caso, do brasileiro, mais especificamente do amazonence. Esboçando uma explicação materialista do inconsciente, tendo como sua faceta irmã o consciente, esse conceito é sentido nas situações de ausência, falta ou mesmo inexistência de algo. Lembrar da abolição da escravatura é retomar uma existência não-sabida por muitos. O inconsciente, portanto, não significa uma memória esquecida ou uma realidade velada. Trata-se, o inconsciente, de campos desconhecidos do real ou da realidade. O passado histórico nos é sempre um campo inconsciente, desconhecido de fato, reconhecido no simbólico e no imaginário. Tratando da problemática do negro no Brasil, podemos refletir que um dos motivos da produção de um dia para a consciência negra, vinte de novembro, não quer dizer que o negro estava até então esquecido. Quiçá seja pior! Possivelmente o dia da consciência revela justamente que o negro no brasil, ao lado dos indígenas, dos presidiários, das mulheres, das crianças, dos idosos, dos estudantes, dos trabalhadores etc. fossem até então desconhecidos, pois movimentavam o real em um campo cego de acordo com as perspectivas de muitos brasileiros, em especial, as elites, os senhores de escravos que mesmo após a abolição não quiseram esquecer do negro enquanto escravo, deixando inconscientes inúmeras facetas e potencialidades do negro. Em uma dessas páginas de internet estava na primeira folha uma frase mais ou menos assim: relembrem dos escravos que fizeram sucesso nas novelas. Vejam que não são atores negros que representaram escravos, mas no discurso e na prática ainda explorados como tais. Ter consciência, com efeito, não implica outra coisa senão vivenciar uma realidade até então desconhecida. A fome é inconsciente, por exemplo, para aquele que nunca passou fome, para aquele que não conhece a fome. Nesse sentido, o discurso da fome dificilmente tocará radicalmente alguém que nunca passou por qualquer situação de falta ou ausência. Enquanto aqueles que já passaram fome, podem chorar de ouvir essa palavra. No máximo um discurso semiotizado possa provocar, acerca do real, um raciocíno lógico sobre algo que lhe é desconhecido. Um simples dia, por meio desses argumentos, pode ser a ferida concreta e material de um campo desconhecido. Sendo esse dia abordado em um evento social na cidade de Parintins-AM, onde a minoria é negra, diferente de cidades como Salvador-BA, cuja maioria é negra, pode responder para o amazonence e consequentemente para o brasileiro branco em geral, a seguinte pergunta absurda: existem negros no Brasil?
LANÇAMENTO DO LIVRO "CADERNOS NEGROS: CONTOS AFRO BRASILEIROS"
A referida obra, 32º volume de uma série, é constituída por uma reunião de contos cujas autorias derivam de diversos autores, entre os quais Fausto Antonio é autor de "A encruzilhada". Condizente com nosso discurso apresentado acima acerca da palestra que comporá a temática de nosso próximo Banquente, a apresentadora do livro, Ana Célia da Silva, comenta que não "[...] podemos esquecer a contribuição da poesia dos companheiro compositores, que cantando nos ensinaram a conhecer à África eo Brasil negro". Para nós, conhecer significa fazer algo consciente. Possibilitar que o sujeito humano saia das inúmeras condições nas quais sua identidade é definida por aquilo que ele não conhece ou não sabe. Sobre o negro no Brasil, portanto, a identidade do brasileiro tem como marca distintiva seu não-saber, seu desconhecimento acerca da realidade negra. O conto de Fausto Antonio, por sua vez, não poderia trilhar caminhos e encruzilhadas diferentes. Trata de personagens tramados em dinâmicas de vozes e silêncios, expressões e segredos. Além do desconhecido negro, a presença da desconhecida mulher revela a necessidade da experimentação de realidades pelo próprio corpo como base fundante e verdadeira para se assumir a frase: eu conheço! Não obstante, esse processo matrero de conhecer pela experimentação acaba por reservar como possibilidades possíveis os exercícios de abertura de fendas, feridas, ângulos, olhos, bem como traições, paixões, amores, doçuras constituintes do exercício corporal e carnal da procura em meio a objetos e palavras ambíguas.