sábado, 25 de maio de 2013

"OS ENCANTOS DA POESIA"

Com o Tema "Os Encantos da Poesia" a Livraria Universitária de Parintins- LUPA, realizou no dia 27 de Abril mais uma edição do SARAU SABERES E SABORES, contou com a presença do Poeta e Professor Venícius Garcia que trouxe seu saber poético e com a presença do escritor, jornalista e amante da literatura Wilson Nogueira

Pupunha e poesia
Wilson Nogueira

Pupunha, café, prosa e poesia. Os substantivos dispensam a coerência imediata. Eles vão se articulando aos poucos aos demais gêneros de palavras até se tornarem às vezes coerentes, às vezes incoerentes e às vezes coerentes e incoerentes ao mesmo tempo. As palavras habitam o mundo das possibilidades da expressão humana. É esse o sentimento que me transmite as conversas que têm como objetivo tentar compreender a poesia e a prosa.

Ontem, ao redor de uma mesa abastecida de pupunha, café e livros, um grupo inebriado pelo poder das palavras se reuniu na Livraria Universitária de Parintins (Lupa), na Avenida Nações Unidas, para conversar sobre “Os encantos da poesia”, tema apresentado pelo poeta, professor e agitador cultural Venícius Garcia. É gratificante constatar que os fios da esperança se articulam e se entrelaçam em favor de um mundo melhor, mesmo que tensionados pelas forças que conspiram contra a emancipação dos indivíduos e da sociedade.

O anfitrião, Aldílson Albarado, é o típico sujeito que, num determinado dia, se apaixonou pelos livros e, logo na primeira oportunidade, montou o negócio dos sonhos. Ou literalmente, negócio de sonho, sonho que precisa se alongar diante da ameaça da vigília, essa irmã gêmea da realidade nua e crua. As operações da racionalidade matemática nunca lhes aponta o sucesso empresarial. Em vez disso, geram desestímulo e até desespero. Vivemos num país de raríssimas políticas públicas de incentivo à leitura.

Adílson Albarado caminha nesse fio que ata, graças a sua sensibilidade, mundos tidos, para muitos dos mortais, como incompatíveis. O livreiro, que a instantes se lamentava dos negócios, enchia-se de energia para agradecer aos que estão ali para interagir poeticamente. O gesto que tem se repetido com mais frequência em Parintins, desde a versão do Festival Literário Internacional da Floresta (Flifloresta), evento realizado, em 2010, por empresas do grupo Valer, em parceria com a Prefeitura Municipal de Parintins, o Instituto Memorial de Parintins (Impin), setores das universidades, da Ufam e da UEA, também incentivam celebrações ao livro e a leitura.

O sarau da Lupa é um rio para ser navegado sem bússola. O navegador, do mais experiente ao marinheiro de primeira viagem, precisa, sim, estar ciente das incertezas que lhe espreitam. Rodrigo Bit Rabiscador, autor de poemas admiráveis, contou-nos que, quando criança, ouviu no rádio que os anéis inferiores e superiores do estádio de futebol estavam lotados. Baseado nos anéis usados por seus avós, ele se atirou à ideia de construir um campo de futebol redondo. Seus avós repetiam sistematicamente: “Esse menino está ficando louco”.

Quanta frustação ao descobrir, mais tarde, que os campos de futebol têm a forma de um retângulo. “Mas o meu campo de futebol continua no formato redondo”, disse. Seus avós bem que imaginaram: havia naquele gesto tenro uma “boa loucura”, uma imaginação livre das formas geométricas, dos conceitos e dos preconceitos que, também, tentam amarrar as palavras na coerência gramatical.

É com essa compreensão intuitiva que nos brinda o Rabiscador: “loucura boa loucura/ que subverte o estado de dicionário em arte/ e revela no à toa o artista/ que transfigura o real em realidade almejada/ e poucos em loucos, bons loucos/ loucura que cura seus poucos/ dores e admiradores/ loucura genial!!!/ na imensidão da curta vida/ louca genialidade louca!/ genialidade louca genialidade!/ e só sendo genial’mente muito louco/ para expressar atistica’mente a noção de belorrealidade/ da loucura genial que é a poesia!”.

Para contrariar a tradição da cidade, o sarau da Lupa não terminou em boi-bumbá, embora o assunto não tenha sido ignorado no decorrer da conversa. A pupunha, o café e os livros foram consumidos sem sentimento de culpa. E, assim, palavras e coisas dispersas foram tensionadas e relacionadas entre si. Dependendo dos sentidos e sensibilidade de cada um, umas adquiriram coerência e outras não. No geral, mais uma encontro prazeroso com pessoas que persistem na luta pelo estímulo à leitura.

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